terça-feira, 5 de maio de 2015

MOURINHO MUITO MAIS QUE UM TREINADOR, CONFIRA A ENTREVISTA

matéria extraída do blog de Fernando Amaral
O Telegraph, publicou uma excelente entrevista com José Mourinho, técnico do Chelsea...

Li, gostei e repasso.

Mourinho abre o jogo sobre assuntos do futebol quase nunca tratados em suas entrevistas coletivas...

Vai além, fala sobre outros temas: de religião a família, do antigo trabalho como professor a voluntariado, do protecionismo aos jogadores ao individualismo crescente no futebol... 

Deixa evidente que ele é...

E desconstrói a imagem do sujeito competitivo que sempre quer se dar bem. 

Abaixo os melhores trechos:

- Como educar crianças especiais o ajudou a ser técnico

“Um grande desafio que eu tinha era dar aula para crianças com necessidades especiais. Eu não era tecnicamente pronto para ajudar esses garotos. E eu tive sucesso apenas por causa de uma coisa, a relação emocional que eu estabeleci com eles. Eu realizei pequenos milagres apenas por causa da relação. Afeição, proximidade, empatia – somente por causa disso. Havia um garoto que recusava sempre subir as escadas. Outro que não podia coordenar o movimento mais simples. Todos esses diferentes problemas, e tivemos sucesso em vários, vários casos baseados apenas na empatia”.

- A importância de se criar um bom ambiente em equipe

“Depois das crianças especiais, comecei a treinar garotos de 16 anos. Agora, treino os melhores jogadores do mundo, e a coisa mais importante não é se você está preparado do ponto de vista técnico. O mais importante é a relação que você estabelece com a pessoa. Logicamente, você precisa de conhecimento, de capacidade para analisar as coisas. Mas o centro de tudo é o relacionamento e a empatia, não apenas individualmente, mas no time. E para criar essa empatia em equipe, todos nós precisamos abrir mão de algo. Não é sobre estabelecer a relação perfeita entre você e eu, mas em grupo, porque o grupo vence títulos. Não são as individualidades que vencem as coisas”.

- A extinção da Bola de Ouro e a individualização do futebol

“Antes, os jogadores esperavam ser ricos quando se aposentassem. Agora, eles querem ser ricos antes de fazer o primeiro jogo! Mas eu penso que Wenger disse algo sobre isso que é interessante. Ele é contra a Bola de Ouro, e acho que ele está certo, porque nesse momento o futebol está perdendo um pouco o conceito de time para focar mais no individual. Nós estamos sempre olhando para as atuações individuais, as estatísticas individuais, o jogador que corre mais. Porque você correu 11 km em um jogo e eu, nove, você fez um trabalho melhor do que o meu? Talvez não! Talvez os meus nove sejam mais importantes”.

- O time é muito mais importante que o craque

“Para mim, o futebol é coletivo. O individual é bem-vindo se você quer fazer o seu grupo melhor. Mas você precisa trabalhar para nós, não somos nós que temos que trabalhar para você. Quando um grande jogador chega, o time já existe. Não é ele que vem descobrir o time, como um Colombo descobrindo a América. Não, não, você está vindo nos ajudar a sermos melhores. E, como técnico, você tem que dar essa mensagem todos os dias – não com leitura ou palavras. É sobre o que os jogadores observam em relação ao seu comportamento e a sua reação aos jogadores”.

- A falta de preparação das promessas da base

“Lembre-se, eles são o produto final de algo. Eu tive um jogador, que não direi o nome, ao qual dei uma chance no primeiro time. Semanas depois que ele jogou, o pai e a mãe deixaram o emprego, passaram a viver com ele, viver a vida dele, tomar as decisões por ele. É muito difícil. É um exemplo em milhares. Eles precisam ter sorte com os pais e com os empresários. Eles precisam de educação. Quando eu realmente tive dinheiro em minhas mãos, estava em meu segundo contrato com o Porto, tinha 30 e poucos anos, era casado, estava pronto para isso. Esses garotos, eles não têm 20 anos. Não sabem como reagir, o que fazer. No Chelsea, temos um departamento fantástico que chamamos de Bem-Estar e Apoio aos Jogadores. Eles ajudam os atletas em tudo: a investir dinheiro, comprar uma casa, ter um carro. É um mundo complicado. É meu dever assumir uma figura de pai”.

- Sobre a participação em programas de combate à fome

“Visitar a Costa do Marfim foi uma experiência fantástica para mim, que compartilhei com minha mulher e meus filhos. Nós conhecemos sobre a pobreza, mas ter contato com essa experiência foi realmente incrível – negativamente e positivamente. É difícil lidar com isso, mas, ao mesmo tempo, há um enorme orgulho de estar conectado com esta luta, promover este trabalho. Mas minha esposa e eu temos o princípio que fazemos isso não para as pessoas saberem ou para nos promover. Fazemos isso porque podemos, queremos que nossos filhos entendam o quão privilegiados nós somos e que as outras pessoas precisam de ajuda”.

- A religiosidade de Mourinho

“Eu acredito em Deus totalmente, claramente. Rezo todos os dias. Converso com Ele todos os dias. Eu não vou à igreja diariamente, nem mesmo todas as semanas. Eu vou quando sinto que preciso ir. E, quando estou em Portugal, sempre vou. Rezo pela minha família. Pelos meus filhos, minha mulher, meus pais. Pela felicidade e por uma boa vida. Mas eu posso dizer que realmente eu nunca vou à igreja conversar com Deus sobre futebol. Nunca!”.

- O distanciamento entra a vida pessoal e a profissional

“Eu penso que sou uma boa pessoa. Tento ser. E penso que sou. Eu não tenho problemas com a família ou com os amigos. Eu tento apoiar as pessoas que eu nem mesmo conheço. Eu cometo erros? Sim. Minha área profissional não é só competitiva, também é emocional e empurra as pessoas a certo tipo de comportamento. Mas a vida profissional é somente uma parte da pessoa. Uma pessoa é muito mais do que isso. Nunca discuto futebol com minha mulher, não é o mundo dela. Estar no clube é algo que eu gosto, que eu aprecio. Esse é basicamente o único conselho dela, porque quando isso acontece a vida em casa melhora para todos. Mas é difícil. Mesmo se eu separar as coisas, algumas vezes eles não podem. Quando eu perco algum jogo importante, tento ir para casa sorridente, porque amanhã é um novo dia e é só um jogo de futebol. Mas, quando chego, eles estão com uma cara ruim, tristes por mim!”.

- A exaltação excessiva dos jogadores de futebol

“Eu sou apaixonado por futebol, logicamente. Mas para nós, profissionais, se ele significa tudo, estamos com problemas. E o mesmo para os torcedores. Em Portugal, eles dizem que você pode trocar tudo, menos sua mãe e o seu clube. Eu entendo, porque o futebol tem poder social, político e cultural. Mas como você pode colocar um jogador na lista de 100 pessoas mais influentes do mundo da Forbes? É um absurdo! Eles não salvam vidas! Eu sei que as pessoas podem pular do quinto andar por causa de uma derrota, mas essa pessoa tem problemas. Como você pode comparar um jogador ou um técnico a um cientista, a um doutor? Você não pode comparar”.

- A evolução de Mourinho com o tempo

“Eu penso que eu tenho um problema, no qual estou ficando melhor no meu trabalho em tudo desde que comecei. Há uma evolução em diferentes áreas: a forma como eu leio o jogo; a maneira como eu preparo o jogo; o jeito como eu treino; a metodologia… Eu me sinto melhor e melhor. Mas há um ponto no qual eu não posso mudar: quando eu encaro a imprensa, eu nunca sou um hipócrita”.

- O papel do técnico dentro do clube

“O técnico não é a pessoa mais importante no clube, claro que não é. Eu sigo dizendo que a pessoa mais importante no clube é o torcedor, depois o presidente, em seguida os jogadores e então eu apareço. Mas é para o técnico que todos olham. Os jogadores te veem, te analisam, querem saber a sua reação e sentir a sua estabilidade. As pessoas que trabalham no clube também estão te observando, mesmo os torcedores. Se você supera uma grande derrota, se segue com os pés no chão após uma grande vitória. E eu penso que sou bom em controlar essas situações e em tentar manter as pessoas em equilíbrio sobre visões negativas e positivas”.

- Mourinho é maquiavélico?

“Eu não me vejo assim. Sim, eu conheço Maquiavel, logicamente. Eu concordo que algumas vezes eu posso ter algo de Maquiavel nos meus comentários, mas não mais do que isso. Não em tudo o que faço”.

Caso você domine o inglês, pode ler na íntegra, seguindo o link abaixo:

Fonte: Fernando Amaral.

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